domingo

Livro Vivência e Sabedoria do Chá

(calligraphy by Kankai Onozawa, retired Abbot of Jukoin Temple at Daitokuji, Kyoto)



De acordo com Sen Rikkyu (1522-1591):

  O Cha nao é nada mais que isto:
  Primeiro voce aquece a agua, e entao voce prepara o cha.
  Entao voce o bebe corretamente.  Isto é tudo o que voce precisa saber.

A Cerimonia do Cha nao tem apenas o objetivo de mitigar a sede; é a síntese do mundo cotidiano da cultura japonesa, uma disciplina q ajuda a aprimorar o caráter, a treinar a mente através de atividades criativas  e, assim, a elevar a espiritualidade .

Na Cerimonia do Cha, o anfitriao comeca a tracar o plano da reuniao de cha para receber os convidados. Escolhe o arranjo de flores, o kakemono (poema ou frase), dispoe o carvao para aquecer a agua e, na sala de cha, atraves de uma sequencia de movimentos (temae) perfeitamente aprimorados por um longo periodo de tempo, prepara a tigela de cha q acolhe os convidados q, por sua vez agradecem pela consideracao dispensada.

Na interacao entre os convidados e o anfitriao, atraves do chado, aprendemos a importancia do relacionamento humano, incorporando os Quatro Principios: Wa, Kei, Sei, Jaku ou seja:

- Wa - Harmonia - Manter boas relacoes entre as pessoas

- Kei - Respeito - Respeito mutuo entre as pessoas com modestia e discricao consigo mesmo.

- Sei - Pureza - tornar o coracao puro, eliminando as impurezas mentais.

- Jaku - Tranquilidade - serenidade impertubavel presente em qualquer circunstancia.

Provavelmente as pessoas disponham de pouco tempo para aprender a Cerimonia do cha. Entretanto, atraves de seu estudo é possivel ter um insight daquilo que foi perdido em meio à vida apressada do dia-a-dia, q é o sentimento de aceitacao, a consideracao para com as pessoas ao nosso redor, a sensibilidade à mudanca das estacoes do ano, a meditacao. Os meus sinceros votos para q, por meio do aprendizado ou mesmo da participacao em uma Cerimonia do Cha, todos possam encontrar esses principios em seu coracao.

As Sete Regras de Rikkyu

"O que, precisamente, são as mais importantes coisas que precisam ser entendidas numa cerimônia de chá?" Esta pergunta foi feita a Sen Rikyu por um discípulo.

Sua resposta: "Prepare uma deliciosa tigela de chá; disponha o carvão de modo a aquecer a água; arranje as flores tal como elas estão no campo; no verão surgira frescor, no inverno calor; prepare tudo com antecedência; prepare-se para uma eventual chuva; e dê àqueles com quem se encontrar toda consideração."

O discípulo, um tanto desapontado com essa resposta, onde não encontrou nada de importância tão grande que pudesse supor ser um segredo da prática do chá, disse: "Isso tudo eu já sabia..."
Rikyu respondeu: "Então, se você pode conduzir uma cerimônia do chá sem desviar-se de nenhuma das regras que eu acabei de expor, eu me tornarei seu discípulo."

A Cerimonia do Cha

A Cerimônia do Chá completa inicia-se com a chegada do Convidado. Ele deve observar se a água foi espargida nas pedras do caminho que levam à Cabana de Chá. Se as pedras não estiverem molhadas isto quer dizer que o Anfitrião não está pronto. Se o Anfitrião tiver molhado as pedras quer dizer que o Convidado pode entrar. Este sinal é muito bom pois não causa constrangimento a nenhuma das partes. Caso o Convidado tenha chegado cedo demais, ele pode dar uma volta e retornar mais tarde e observar novamente.

O Convidado aprecia o caminho para a Cabana de Chá. Perto da entrada há uma bacia baixa de pedra; cada hóspede pára para lavar as mãos e a boca num ato simbólico de purificação. Os convidados continuam e entram abaixados através de uma pequena porta de 70 cm de altura. Isso porque todos devem abaixar a cabeça para entrar. Espadas e mantos reais não passam por essa pequena abertura, devendo ser deixados de fora. Apenas o ser humano adentra a Sala de Chá, sem ostentações, todos são iguais.

Antes da chegada dos convidados, o anfitrião pendurou um Kakemono (pintura ou caligrafia sobre papel ou seda).

Num recipiente recém preparado com cinzas, um fogo de carvão foi aceso, o incenso foi queimado, e sobre o fogo o anfitrião colocou uma chaleira com água para preparar o chá.

Ao entrar cada convidado aprecia o kakemono, o fogo, o arranjo das cinzas, a chaleira e todos os outros utensílios que estejam expostos. A iluminação moderada e os tons suaves das paredes de barro e da madeira envelhecida criam uma atmosfera que conduz à contemplação. O anfitrião surge e começa a servir o Kaiseki, refeição ligeira.

A palavra Kaiseki é composta por 2 ideogramas Kai = Pedra e Seki = Quente. Quando os monges estavam meditando não havia tempo para preparar comida, então eles pegavam uma pedra da fogueira e colocavam sob a roupa no estômago para aquecê-lo.
O Kaiseki vem do nome dado a uma pedra aquecida que os monges Zen usavam para aliviar o estômago das dores causadas pela fome ou pelo frio. Desde então passou a significar uma pequena refeição, suficiente apenas para satisfazer a fome.

Depois de compartilhar a refeição os convidados são servidos de um doce e do chá forte. Após isso serve-se o chá fraco.

O Otemae, preparo do chá, consiste de 3 partes:
- Purificacao dos utensílios
- Preparo do chá
- Limpeza dos utensílios.

Deve ser realizado em silêncio, ou só falando amenidades. A mensagem é enviada pelos utensílios, kakemono, flores.

A escolha do kimono depende da estação do ano. A manga indica o estado civil da pessoa q o usa. Mais longo, solteira, mais curto casada.


Saiba mais:

Livro: Vivência e Sabedoria do Chá, Autor Sen Soshitsu XV, T.A.Queiroz, Editor, Ltda.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u363399.shtml


Livro Chado - Introducao ao Caminho do Cha

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